sábado, 30 de julho de 2011

Não mais fratricídio

Matar um gato é bem mais difícil do que matar uma pessoa. Eu só me dei conta disso quando tive que fazê-lo. Sempre fui assim, corajosa e assassina. O que podia fazer se alguém dentro de mim balbuciava palavras de repressão? Tinha que mostrar para ele que eu era mais forte que todos. Aceitava qualquer desafio. Já matei mais do que nasci. À noite é difícil segurar esse instinto. Atacava apenas por prazer, mas acabou virando um trabalho. Eu tinha que matar porque senão alguém que eu conhecia iria morrer. Eu tinha certeza disso.

Estava sobre meus próprios pés ao lado daquela árvore. Ela me conhecia bem. Aquele era meu ponto. Um lugar calmo, mas com movimento. Hoje ele havia sussurrado para mim que eu deveria matar outro gato. Não queria mais fazer aquela atrocidade, mas ele me ameaçou e afirmou que se não cumprisse, minha irmã seria decapitada E eu não queria que aquilo acontecesse de novo.

Comecei a preparar tudo. Peguei a linha de pesca e o anzol. Pendurei na árvore. Peguei a faca e me escondi. Estava passando a vítima perfeita. Uma senhora de uns 65 anos. Quando ela estava no local certo, eu peguei o anzol e prendi em sua boca com apenas um golpe. Cortei sua língua para que ficasse quieta. Puxei a linha ao máximo. Ela não podia me ver. Estava com a cabeça inclinada para trás. Fui até a minha mochila e peguei o gato. Era necessário. Cortei a calda e a cabeça dele com muita rapidez. Já estava acostumada. Peguei o rabo e a fiz engoli-lo. Os olhos pretos dela começaram a lacrimejar e eu me irritei. Ela tentou pronunciar algo, mas fiz ouvidos de mercador. Cortei-lhe a orelha esquerda e comecei a rir. Aquilo era muito prazeroso para mim. Essa era a verdade. Ninguém balbuciava ou sussurrava nada ao meu ouvido. Era a minha própria consciência que implorava por sangue.

Um trovão cruzou o céu e eu tive que me apressar. Cortei o pescoço da senhora e comecei a beber todo o sangue. Cada gota era como um elixir de êxtase. Aquilo me animou. Cortei dedo a dedo. Primeiro os da mão, e depois o do pé. Cortei-lhe a barriga e mordisquei-lhe o intestino que teimava em fugir. Ela já não se mexia e eu tinha que me mexer. Guardei minhas parafernálias, amarrei a linha no pára-choque do carro e acelerei. O anzol rasgou a bochecha dela e o sol rasgava o luto de mais uma noite chuvosa. 

Um comentário:

Diga, eu anoto! ;D