sábado, 9 de julho de 2011

Solução

Não acendeu as luzes. Na verdade, nunca acendia. Não gostava de ver o que lhe cercava. Pode parecer um pouco de egocentrismo, mas ele realmente era introspectivo. Estava paralisado, deixando a água quente escorrer pelo seu corpo. A hora do banho, como gostava de chamar, era seu momento de reflexão. Pensava demais nas coisas que tinha feito e no que poderia fazer para consertá-las. Assistia as gotas escorrem pelo vidro do Box e deixarem marcas por onde passavam. Amava comparações. Ele também estava marcado. Ela, como ele chamava, tinha doído demais e ele já não sabia como parar. Por incrível que pareça, ele tinha um amigo. A faca. Seus pensamentos lhe martirizavam perguntando o porquê do fracasso. Tudo tinha sido planejado na mais perfeita calmaria. Ele sabia cortar uma maçã. Ela estava muito bem afiada e já havia deixado sua presença em seu corpo branco. Suas costas podiam confirmar. Tinham marcas vermelhas espalhadas na vertical. Todas simétricas e alinhadas entre si. Eram sete. Ele as contava todos os dias. Tirava as cascas com a unha. Era um mantra para ele. Não teve coragem para finalizar aquele processo. Não era muito corajoso. Tinha medo de altura. Tentou vencê-la, mas achou que seria muito agonizante a queda. Além disso, já não morava mais no décimo quinto andar. Os minutos e os pensamentos se passaram. Ela não saia da cabeça dele. Todo o martírio de sua vida era culpa dela. Ele virou para o registro e o tocou apenas com a ponta dos dedos. Estava muito gelado. Virou sentido horário. Apesar de sempre gostar de ser anti e de nunca ter horário. O silêncio tomou conta. A respiração ofegante dele era a única coisa que se podia ouvir. Seu corpo magrelo ficou parado. Pensava. Lembrou que logo sentiria frio e não queria mais a companhia de ninguém. Correu e abraçou a toalha. Novamente suas divagações o levaram ao mesmo assunto. Não gostava de ser normal. Queria ser único, exclusivo. Sua mente adorava jogos e logo ele lembrou que não seria o primeiro a fazer isso. Tinha que achar outra coisa que fosse inigualável. Pegou sua roupa e se trocou rápido. Colocou o bom e velho moletom cinza. Por um momento se sentiu confortável. Isso trouxe a solução para tudo. Um brilho em seu olhar apareceu no espelho que ainda estava embaçado. Ele sabia o que fazer. Teria que encará-la. Viveria feliz com sua Tristeza.

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