quarta-feira, 27 de julho de 2011

Concreto

Leiam escutando essa música!! ^^



Não sentia meu corpo. Estava caído ao chão e consciente. Passei por aquela rua indo para casa e tropecei na raiz da árvore onde, agora, estava encostado. Tentava mover minhas pernas e não conseguia. Fiquei desesperado e não sabia o que fazer. As pessoas passavam por mim e não ajudavam. Todas corriam apressadas e não podiam parar um segundo sequer. Um jovem distraído, alto e magro, que passava pelo local ouvindo música, não me viu. Acabou chutando minha perna, o que me deixou mais aliviado. Eu senti o chute, mas não podia me mexer. O moço pediu desculpas e eu não conseguia fitar meus olhos em seu rosto. Minhas pálpebras pesavam demais e meu olho se fechou. Nessa hora me senti flutuando. Tentava respirar, mas os músculos do meu corpo estavam todos paralisados. A única coisa que sentia era o vento que batia no meu rosto. As pessoas que passavam na rua riam e eu podia ouvi-las, mas não conseguia pronunciar algo audível.

Tentei manter a calma e me concentrar. Eu tinha que me levantar e ir para casa. Minha mulher estava à minha espera. Ela não gostava de imprevistos e eu nunca me atrasava na volta do trabalho. Sempre tive uma saúde muito boa e por isso trabalhava como peão em uma empresa metalúrgica duas ruas acima da minha. Comecei a pensar no jantar que minha esposa devia ter preparado. Fiquei com água na boca literalmente e uma gota de saliva escorreu pelo meu rosto e caiu sobre o macacão verde. Era meu uniforme de trabalho. Vivia um pouco sujo, mas mesmo assim tinha orgulho de vesti-lo.

Não sabia mais que horas eram. Meu pulso estava caído e meus olhos ainda fechados. Talvez já tivesse escurecido. Não ouvia mais os passos das pessoas nas ruas. Será que minha mulher estava aflita em casa? Ou será que ela me procurava nas ruas? Talvez até a polícia já estivesse atrás de mim. O vento soprava mais forte e gelado e comecei a sentir um formigamento nos braços. Fiquei muito nervoso e não aguentava mais esperar. Comecei a suar frio. Minha testa estava toda molhada e não parava de coçar. Tentava mexer minhas mãos para alcançar minha cabeça, mas não conseguia. Nem meu pescoço se firmava em pé. Estava pesando demais. Eram tantos pensamentos que me ocorriam que eu não sabia mais o que fazer. Estava exausto de tentar e não tinha movido nem um dedo. Pensei que se ninguém me ajudasse eu ficaria ali para sempre, como uma estátua de concreto. Era isso. Tinha me lembrado. Eu não era ninguém e aquilo tudo não passava de um delírio meu. Eu era apenas uma calçada de concreto sonhadora e sozinha. Imóvel. 

4 comentários:

  1. De onde você tira ideia pra histórias assim? Prendem minha atenção de um jeito fascinante!
    Muito muito bom :)

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  2. Graande Eric!
    Com a música é possível adquirir o verdadeiro "espírito" da coisa.
    Já disse e vou repetir: Ótimo texto, parabéns!

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  3. Ótima a idéia da música, fez a gente criar a cena direitinho na cabeça :)
    Muito bom!

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  4. Nossa muito bom mesmo.
    Vc brisa muito e sempre me surpreende. Demais!

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