segunda-feira, 11 de julho de 2011

So-L-ua

Morena, um metro e oitenta. Morava numa casa como outra qualquer. Amarelo era sua cor preferida. Vivia pelos cantos cantando e cuidando da sua irmã mais nova. Por falar em idade, ela tinha 18 anos. Havia terminado a escola e ainda não sabia que rumo tomar. Ela tinha dois defeitos. O primeiro, ela era muito preguiçosa, mas tinha seus afazeres e não deixava acumular um sequer. O segundo defeito, ela era muito bonita. Onde quer que passasse, chamava a atenção. Ela realmente brilhava e os vizinhos a adoravam a ponto de dar presentes semanalmente. O presente que ela mais recebia eram girassóis, por causa de seu nome. Chamava-se Sol. Nome que sua mãe escolheu porque ela nasceu num dia de muito sol.
                                                
Trabalhava como assessora contábil e, assim como onde morava, sempre era alvo dos olhares atentos dos colegas de emprego. Seu último namoro havia terminado justamente por causa disso. Seu ex era muito ciumento, e com razão. Ele não suportava os olhares que ela atraia e não confiava em Sol. Por causa disso, ela ficou muito brava e acabou rompendo o namoro de três meses. Seu recorde. Não era de namorar muito. Preferia sonhar mais. Dizia que estava à espera de um príncipe, mas sua amiga Dani sempre respondia dizendo que era mais fácil esperar um milagre.
        
Assim como todos os dias, Sol acordou cedo. Junto com seu homônimo. Fez o café, acordou Isa, sua irmã, arrumou as camas e varreu a casa. Eram oito horas e Isa estava atrasada. Sol pegou sua bolsa amarela, fechou a porta de sua casa amarela, entrou em seu carro amarelo e levou Isa para a escola. Deixou a irmã e foi direto para o trabalho. Enquanto isso aproveitou o trânsito para se arrumar. Estava com um vestido amarelo em pleno dia de inverno. Enquanto as pessoas que passavam apresadas na rua estavam agasalhadas, ela estava com a janela do carro aberta e curtia a brisa que balançava seu cabelo.
                                                                          
Ao pegar a maquiagem para passar no rosto, Sol decidiu colocar uma música e tentou pegar o porta-CD sem sucesso. Agachou um pouco mais para alcançá-lo do outro lado do carro. Enquanto isso Luã atravessava a rua e acabou sendo atropelado. Assim é a vida. Sol ficou pálida, se isso é possível. Encostou o carro e foi de encontro ao moço. Ele se apresentou e disse que estava tudo bem. Tinha o cabelo cor castanho-claro e era um pouco mais alto que ela. Vestido de paletó, com uma gravata azul, sua cor favorita. Disse que tinha que chegar ao trabalho em cinco minutos. Sol deu um radiante sorriso e perguntou se Luã não queria carona. Claro que ele aceitou. Aceitou também o café na próxima segunda, o jantar na próxima sexta e o festival de inverno na próxima semana.
                                                                                                                        
A vida de Sol prosseguiu semelhante. Levantava-se às seis da manhã, arrumava a casa, levava Isa para a escola, ia trabalhar, almoçava com Dani, fazia mais e mais contas, jantava com Luã, ia pra casa com ele e encontrava Isa dormindo no sofá. Colocava-a para dormir e ia se sentar no sofá para assistir desenhos. Os dois amavam desenhos. Isso os acalmava e fazia os dois darem risadas. Além dos desenhos, tinham muita coisa em comum. Uma delas era o gosto musical. Cada dia eles apareciam com uma música nova. Sempre que escutavam uma banda desconhecida, já pensavam em apresentar ao outro. Trocavam também textos. Os dois não eram os maiores escritores, mas toda e cada palavra tinham um sentido especial aos dois. Para Luã, já era impossível não pensar em Sol todos os dias. Já ela, passava noites acordadas pensando nele. Era uma grande amizade.

Chegou o dia do festival. Os dois iam viajar junto com a Dani e seu namorado Yuri, um japonês que Dani conheceu pela Internet. Isa ia ficar com o pai e, como estava de férias, ia viajar para o interior também. Ao chegarem ao local, Sol já ficou muito feliz e deu mais um de seus sorrisos encantadores. Era uma cidadezinha muito pequena e simpática. O show seria às nove horas e eles tinham o dia inteiro para conhecer a vila. Tiraram as coisas do carro, montaram as barracas e foram dar uma volta para comprar algumas coisas. Sol passou em uma lojinha de eletrônicos e finalmente comprou o fone de ouvido que estava procurando há meses, mas nunca tinha tempo, ou ânimo, de comprar.

Voltaram para as barracas e se prepararam para o show. Ficaram conversando por muito tempo e muitas coisas já passavam na cabeça de Sol e de Luã. Chegava a hora. O show ia começar. Sol amava a banda que ia cantar e tinha apresentado ela para Luã há algum tempo. Pegaram os ingressos e foram direto para o local. Ficaram bem embaixo do palco com uma visão privilegiada. Eles cantaram, dançaram, se animaram e aproveitaram ao máximo. O que não faltou foram sorrisos. Sol ficou rouca de tanto gritar e com dor nas bochechas de tanto rir. Ela não sabia se teria outra noite tão boa, mas ela com certeza sabia que finalmente tinha encontrado o que procurava.


"Quando o Sol e a Lua se encontram, eles formam um ocaso. Eles tem um caso. Eles formam o caso."

2 comentários:

  1. Reconheci uma história em alguns detalhes..
    Tá lindo Eric, parabéns pelo texto e pelo ocaso ;)

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  2. Ia dizer o mesmo que a Bá: encontrei algumas coincidências nessa história! hahaha
    Mas de verdade, me encantei pelo conto e, sei que tiraria toda a graça, mas ia ser tão bom ler uma continuação... :)

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