quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O páss(ar)o

         O pássaro avistara a majestosa montanha ao longe. Parecia confortável e aconchegante. Um pouco úmida e fervorosamente quente. Parecia-lhe familiar. Era como se já a tivesse visto antes. Por muitas vezes. Talvez porque ela sempre estivera por perto. Mas agora a montanha lhe surgia com outros olhos e olhares.
         Plainava cada vez mais perto daquele relevo e sentia-se sucumbido a cravar suas garras e pousar ao topo. Decidiu dar mais uma volta para analisar as rochas e decidir se realmente era seguro se render a voz fina e doce que ecoava das fendas. 360 graus de perguntas tortuosas e ainda não havia pousado. Já estava ficando com as asas levemente fracas e o bico sedento por algo líquido para matar a sede.
         Enquanto se perdia em seus desejos e vontades, não percebeu a aproximação de um outro pássaro. Era seu companheiro de migração. Seu apelido era Kcin. Qual era o significado, ninguém sabia. A única coisa de que se tinha notícia era de sua incrível envergadura de asas. Logo no primeiro olhar trocado já puxou assunto:
         - O que faz por aqui meu bom amigo? Parece cansado, porque não pousa naquela montanha ali ao lado?
         - Olá meu bom companheiro. Estou em dúvida se é seguro pousar. Talvez seja a melhor montanha para descansar, mas eu estava indo em direção à outras maiores.
          - Meu caro! Deixe de besteira! Qualquer montanha é uma montanha!
       - Mas e se eu me apaixonar por essa montanha e nunca mais conseguir pousar em outro lugar?
      - O futuro não nos pertence querido forasteiro. Experimente. Se gostar, fique. Se não gostar, saia e procure outra.
          - E se eu não souber responder à essa pergunta?
         Já um pouco irritadiço, Kcin respondeu:
         - Qual pergunta? Olha amigo, deixa para lá. Decida-se por si só e seja feliz. Conselho é bom, mas está me custando tempo. Adeus!
         O pássaro indeciso não teve tempo para responder. Apenas sussurrou para si:
      - Não sei se posso ou se quero pousar, mas é melhor pagar pela corrida.
         E assim foi plainando até encostar as garras nas pedras mornas e marrons daquela montanha imperial. O calor tomou seus pés e subiu-lhe até a cabeça. A dúvida persistia.


2 comentários:

  1. Adorei o texto...
    você pode até não ter escrito com esse propósito, mas eu acho esse texto bem cabível pra quem está apaixonado e não sabe bem ao certo como agir...e eu adoro metáforas sobre o amor, talvez porque eu me enxergue em muitas delas.

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  2. O tétano é a protagonista da novela das seis.

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