domingo, 29 de janeiro de 2012

...estilhaço

O lábio ressecado indicava a falta do beijo. Os olhos lacrimejados resumiam a história. O cabelo solto contava os detalhes ao balançar do vento. A respiração ofegante balbuciava o passado. Ele havia morrido. Não ressuscitaria. Nem no vigésimo dia. Música perfeita, 'Lonely Day - System Of A Down'. Passos curtos no asfalto cinzento e úmido. As possas d'água refletiam o rosto da jovem crepuscular vespertino. Ao pôr-do-sol ela sai em busca de um cobertor que a conforte. Algo que a agarre e a contenha. Talvez a fumaça de uma explosão interna. O neon verde musgo mesclava-se com a jaqueta de couro preta. O muro à direita a segurou em seu primeiro tropeço. As unhas rasgaram o concreto e se estilhaçaram ao chegar ao chão. Levantou e viu que a calça rasgara com a queda, bem no joelho, e denunciara a pele branca venosa. Tirou o calçado e pisou na calçada nua, assim como sua fragilidade. Quando se corre, parece não ser possível se desequilibrar, pensou. Passos se tornaram pulos de ballet. Grandes saltos que fazia os prédios correrem por entre o canto dos olhos dela. O que ela esqueceu de calcular é que quando se corre, a queda é muito pior. Não adianta fugir. Assim como essa história, o seu coração se quebrou ao final. Um final sem fim. Um pulo mais alto. A avenida 23 de maio logo abaixo e o que sobrou foi...

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