segunda-feira, 18 de junho de 2012

Apatia crônica

Três metros cúbicos de sala. Uma mente que tentava esvair os maus pensamentos. E uma chave que abria o peito em prantos. O barulho do teclado acalmava os tímpanos exauridos de vida. O único tremor que o martelo sentia era o das batidas dos dedos uniformes nas teclas pretas escritas em dourado. Uma letra por tecla. Uma tecla por símbolo. Números e acentos se mixavam no emaranhado de jargões e 'sem-sentido'. Não podia fumar. Muito menos comer. O sono já havia se divorciado do pobre genitor. Só lhe restava vomitar palavras. Na verdade sílabas desconexas. Pontos sobre vírgulas e travessões anti-rábicos. Cinco segundos, ou horas, para estralar as juntas e já era hora de dizer o que tinha que escrever. Era preciso parar de rodopiar em torno da grande dúvida que alimentava o cordão circuncidado do pobre feto anencéfalo. Afinal, o que significavam todas aquelas palavras sem nenhum sentimento? Porque escrevia se era a vácuo? Nada possui nexo sem uma tinta de sentimento. Seu corpo era um quarto branco. As cores evaporaram antes mesmo de nascer. Sua apatia emergia da ausência de empatia familiar.

2 comentários:

  1. Saudades do seu tipo de escrita.
    Esse tom de mistério e uso de simbologias pra dizer tudo e nada ao mesmo tempo.
    Escreva mais. O meu interior agradece.

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  2. Que bom ver vc de volta por aqui!
    "Escreva mais." O nosso interior agradece e aposto que o seu também :]

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