quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

De tablatura à partitura [Último Ato]


[...]
Trocaram um si por um fá. E as borboletas se transformaram em mariposas negras e enormes. Uma arrepiante mancha preta sobre a cabeça do pianista. Preparadas para o ataque. Os anjos trocaram as harpas pelos arcos e apontaram flechas cor ferrugem para os olhos do músico imperfeito. Os pássaros voaram longe, como se tivessem ido chamar alguém. Os unicórnios se transformaram em cavalos negros de olhos vermelhos e chifres pontudos. Do chão escorria terror e já não era mais doce o caramelo que escorria das colinas raivosas. Agora o que transbordava no horizonte era uma lava vermelha e borbulhante que queimava tudo o que via, até o poço de mármore dos unicórnios negros. Os mesmos, correram em direção ao estranho musicista, que perdera o sorriso e o brilho nos olhos e ganhara de volta seu pijama. Os pássaros piavam alto e ensurdeciam o menino. Chamavam a atenção para o rei. Ele estava vindo. Decidiria o que seria feito com os dedos desastrosos e seu dono. A corte se formou e o rei de bigodes negros e pele vermelha apontou o tridente para a barriga do garoto. Os cavalos negros, as mariposas, os pássaros, os anjos e suas harpas, a lava e o rei o atacaram ao mesmo tempo. Tudo escureceu e o menino se sentiu cair em algo gélido, insípido e duro. Era o chão do seu quarto. Caíra na realidade. A perfeição só existia bem longe dele.

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