quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Minha Segunda Pessoa


O vento chacoalhava a copa das árvores e o olhar alaranjado do sol fixava o horizonte. Já havia começado. Pegou o espelho de dentro da sacola e se deparou consigo mesmo. Uma cena que durou anos em apenas três segundos. Como um objeto tão pequeno e frágil podia acusá-lo de ter mudado? Pensou em sua infância e lembrou da inocência que carregava na memória. Se alguém lhe desse uma faca, ele iria cortar todo aquele pensamento em vão.

Era a hora. O ponteiro corria para mais uma volta. A faca se moldava ao desejo do instrutor. Quero [...] profundas! Quero [...] simétricas! Quero [...] de leve e tortuosas. Eu quero e era o que importava naquele momento. 

Faca do dia: de serra. Motivo do dia: solidão compartilhada. Dia. Sem o sol, já estava noite. Mas o vento estufava o peito e subia ao palanque para gritar aos seus quatro irmãos que hoje era uma noite fria.

O estalar da carne atiçava os tímpanos feridos de tanta injúria. O sangue escorria aos poucos silenciosamente. O barulho era interno. Um sussurro. Não havia mais lágrimas como da primeira vez. Agora, o espelho denunciava um sorriso desconhecido. Ele não era mais o mesmo. Perdera o controle do seu autocontrole. 


2 comentários:

  1. "Se alguém lhe desse uma faca, ele iria cortar todo aquele pensamento em vão."

    Ye, guy. I know.

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