terça-feira, 25 de outubro de 2011

A.D.I.V.


O sol ia nascendo na beira da estrada. O rosto repousado estava amassado. Os olhos fixavam a vida. Uma grande estrada. Talvez até um caminho infinito. Levantou a cabeça e pôs-se de pé para que todos o pudessem ver. Ele e sua vitória, sua glória. Uma roupa suja vale muito mais do que o branco da covardia. Os primeiros passos descalços doíam. Claro! Ele ainda não tinha se acostumado. Era um momento único, só dele. Não precisava mais de ninguém para caminhar, e isso o estranhava. Ao fundo ouvia vozes. Durante um bom tempo ouviu conselhos, mas naquele momento não. Ele tampou os ouvidos com força, apertou o passo e começou a correr. Cada vez mais rápido, como nunca antes na vida havia corrido. O vento balançava seus cabelos, o sol já se punha mais à cima e o fim da rodovia já era visível. Para trás, o escuro. Em frente, a luz, o sucesso e tudo que ele tinha que alcançar. A vida. Seus pés não doíam mais. Flutuava como uma pluma. A estrada era pouco para sua velocidade. Era capaz de muito mais. Não queria se manter preso aonde não coubesse. Por isso havia começado a correr. O suor lavava seu rosto avermelhado. Suas unhas grandes apertavam os palmos das mãos. O lábio sofria com a mordida de ansiedade. A garganta estava seca. Onde encontraria água para se refrescar? Estava quase lá e não podia parar por um fetiche qualquer. Ele era maior que sua vontade, que sua estrada, que todos à sua volta. Maior que a solidão à sua volta. Já ultrapassava as nuvens e as estrelas piscavam com sutileza para ele. Não tinha tempo para olhar as estrelas, tinha que chegar ao final. O pódio o esperava. Passava por tudo de bonito que as nuvens formavam. Flores, bichos, amores, filhos, sorrisos. O cabelo já era escasso e branco. A pele enrugara com a força dos ventos. Os pés voltavam a doer e as unhas já não eram tão firmes. De repente se sentiu perdido. Não tinha aonde segurar. Flutuava sem direção. Não podia se movimentar. Suas pernas paralisaram. Seus dedos se abriram. Seus olhos se fecharam. Seus ouvidos puderam sentir o sopro de um último conselho. 

"Antes De Ir, Viva. ADIV a VIDA."

3 comentários:

  1. Cara... acho que não estou muito bom para comentários hoje... mas eu ADOREI!

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  2. Ô ô ô, nuosa, muitooo bom. Tava pensando em outra coisa, outra história e como sempre, você conseguiu enganar.
    Ótimo texto Eric. Ficamos tão fixados em algo e esquecemos de viver e apreciar o que realmente vale a pena.

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  3. Sempre, sempre, sempre me arrancando um sorriso de descobertas com seus textos! :D

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Diga, eu anoto! ;D