sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Pensamentos de um suicída

O trem seguia para o sul. A nuvem negra seguia para o norte. O trilho marcava o encontro dos dois no horizonte. Já era tarde e Rudolph voltava para casa, assim como todos os dias. Morava no interior, mas trabalhava na capital. Vestia uma camisa listrada preta e vermelha que escondia seus braços magros. Os cabelos negros ficavam amassados e tentavam escapar pelas bordas do gorro. Os olhos verdes se ostentavam ao centro das lentes de um óculos de grau. Nos pés trazia um all star rasgado, sujo e preto, assim como o céu estava naquela noite. Sentado ao seu lado estava uma senhora que aparentava pintar os cabelos de loiro. Do outro lado estava Ela. Fixava o olhar para as bochechas vermelhas de Rudolph. Toda de preto, com um batom vermelho e um olhar hipnotizante, Ela era a luz que iluminava o vagão. Aproximou-se dele para conversar, mas bem na hora que disse oi, Rudolph levantou-se e saiu do trem pela porta da esquerda. Ela ficou muito brava e decidiu segui-lo, da mesma forma como o trilho fazia com o horizonte. Viraram a esquina do boteco do Seu Jorge e entraram na Alameda Lorena. A terceira casa com gramado verde e cerca branca, destino final. Entraram pelos fundos, passaram pela cozinha para pegar um lanche e um suco e foram direto para a sala. Toda mobiliada no estilo boate francesa, neon e porcelanas extravagantes. O tapete de veludo foi o aconchego para ambos. Os únicos que podiam acompanhar a cena eram dois ramos de alecrim fixados atrás da porta de madeira. Finalmente poderiam conversar. Ou talvez essa parte não fosse necessária. O tapete se tornou um colchão e os dois rolaram até a mesa de centro. O abajur cor de peixe se espatifou ao chão de madeira envernizada. A saliva escorreu pelo canto da boca e por entre as notas da música que se podia escutar ao fundo. Talvez um violino ou um violoncelo. Quem saberia decifrar. Se despiram rapidamente. Antes mesmo que a música acabasse. Seria um pocket show. O chão era muito grande para eles. Decidiram ir para o sofá de zebra estampada. Na verdade parecia mais uma poltrona do que um sofá. Pequeno demais. Acabaram caindo ao chão novamente, mas dessa vez no piso frio. Caíram no sono logo em seguida. Próxima estação [...] a saliva escorria pela boca, o rosto encostado na janela fria e respingada da chuva e a música clássica que tocava baixinha no mp3. Ele teria que descer e ir para casa sem a companhia Dela. Mais um dia normal e pesado. Nada de Morte por hoje mocinho, respondeu sua consciência.

Um comentário:

  1. hahaha
    Demaaais! ;D
    Comecei a esboçar o sorriso no "Próxima estação", o aumentei ao notar o vulto da palavra "mp3" abaixo e terminei com o pensamento "hahaha Demaaais!" no "Nada de Morte por hoje mocinho".

    Show, Ericquein. ;)

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Diga, eu anoto! ;D